Mirandópolis-SP. - Há tristeza em certos ambientes públicos. Seus operadores não conseguiram atingir o grau desejado. Ainda existe espaço. Pode-se cair mais. Alcançar os últimos da lista. É o objetivo. Um dia chega-se lá.
Em uma lista de cento e oitenta países, onde a nota vai de zero a dez, o Brasil ficou com o grau três e meio. A posição? Um modesto septuagésimo segundo lugar. Um desconsolo só.
A ironia é o que resta. Na verdade, mais um constrangimento para as pessoas honradas. Os números indicados correspondem à pesquisa produzida pela Transparência Internacional, junto a empresários de todo o mundo.
Aponta o levantamento o índice de desonestidade presente em cada país, segundo os critérios da pesquisa. Fica o Brasil em lugar pouco confortável. É considerado como país de elevados níveis de corrupção.
A história é velha. No Século XVII, um anônimo publicou obra clássica: Arte de Furtar. Descreveu todas as práticas utilizadas em Portugal, à época metrópole.
Muitas as modalidades expostas na Arte de Furtar. O cenário, quase sempre, os elevados gabinetes oficiais. Roubava-se desavergonhadamente.
Outro tanto acontecia na colônia. O Brasil que sempre se mostrou como privilegiado palco. Vinham esfarrapados para os trópicos. Voltavam ricos e presunçosos para a terra natal.
Aprenderam os nativos as práticas adventícias. Deu no que deu. A corrupção incorporou-se aos costumes locais. Durante o dia ou a noite, surrupiar tornou-se hábito comum.
Para as indecências, uma confissão e algumas orações de encomenda. A alma ficava em paz e confortáveis os bolsos. Para cada corrupto, uma indulgência especial.
Caminhou-se desta maneira durante todo o período colonial. Avançou-se pelo Império e seus dois reinados. Atingiu-se a República em suas várias fases. Não se abandonaram as práticas corruptas neste Século XXI.
Não dá para continuar. As sociedades globalizadas exigem níveis elevados de confiabilidade. Os agentes públicos devem se pautar por princípios éticos.
Os particulares, por seu turno, precisam elaborar nova mentalidade. Nos tempos contemporâneos, não existe mais espaço para a corrupção. A liberdade expõe os desvãos da burocracia. Nada é oculto.
Construiu-se uma rede internacional de informações. O banqueiro corrupto e corruptor pode evadir-se por algum tempo. Basta um descuido. É apanhado nas malhas dos serviços de inteligência.
Falará. Até para obter benefícios previstos nas leis penais. Muitos patriarcas da República tremem. São os novos tempos. Começam a perder substância as práticas corruptas.
Olhe-se o mensalão. Em sua versão federal, quarenta já foram denunciados. Agora, é a vez da província. Vai acabar também em processo crime. Basta esperar para ver. Vão sobrar muitas penas.
Os órgãos de fiscalização apresentam-se cada vez mais operantes. As cortes de contas e as polícias agem com acuidade. A cidadania acompanha. E mais. Aponta-se à execração pública os corruptos.
Um outro registro triste. Dois países do Mercosul se encontram em posição incômoda: Brasil com sua nota 3,5 e a Argentina atirada ao centésimo quinto posto, com seu grau 2,9. Com estes níveis de imoralidade, fica difícil operar um mercado econômico dinâmico.
Assim caminha o sul da América. Falta vergonha. Sobram contas obscuras. Tudo parece sem limites. O público e o privado confundem-se promiscuamente.
Por toda a parte existem desvios de verbas públicas e tráfego de influências. Nada, porém, se aproxima às diatribes dos países deste Hemisfério.
Não bastam as instituições existentes. São insuficientes. Há quem aponte para a necessidade de nova divisão de poderes do Estado. Postulam a criação de um poder supervisor da integridade.
Pode ser boa idéia. De boas intenções o inferno está cheio. E de corruptos também.
Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
Em uma lista de cento e oitenta países, onde a nota vai de zero a dez, o Brasil ficou com o grau três e meio. A posição? Um modesto septuagésimo segundo lugar. Um desconsolo só.
A ironia é o que resta. Na verdade, mais um constrangimento para as pessoas honradas. Os números indicados correspondem à pesquisa produzida pela Transparência Internacional, junto a empresários de todo o mundo.
Aponta o levantamento o índice de desonestidade presente em cada país, segundo os critérios da pesquisa. Fica o Brasil em lugar pouco confortável. É considerado como país de elevados níveis de corrupção.
A história é velha. No Século XVII, um anônimo publicou obra clássica: Arte de Furtar. Descreveu todas as práticas utilizadas em Portugal, à época metrópole.
Muitas as modalidades expostas na Arte de Furtar. O cenário, quase sempre, os elevados gabinetes oficiais. Roubava-se desavergonhadamente.
Outro tanto acontecia na colônia. O Brasil que sempre se mostrou como privilegiado palco. Vinham esfarrapados para os trópicos. Voltavam ricos e presunçosos para a terra natal.
Aprenderam os nativos as práticas adventícias. Deu no que deu. A corrupção incorporou-se aos costumes locais. Durante o dia ou a noite, surrupiar tornou-se hábito comum.
Para as indecências, uma confissão e algumas orações de encomenda. A alma ficava em paz e confortáveis os bolsos. Para cada corrupto, uma indulgência especial.
Caminhou-se desta maneira durante todo o período colonial. Avançou-se pelo Império e seus dois reinados. Atingiu-se a República em suas várias fases. Não se abandonaram as práticas corruptas neste Século XXI.
Não dá para continuar. As sociedades globalizadas exigem níveis elevados de confiabilidade. Os agentes públicos devem se pautar por princípios éticos.
Os particulares, por seu turno, precisam elaborar nova mentalidade. Nos tempos contemporâneos, não existe mais espaço para a corrupção. A liberdade expõe os desvãos da burocracia. Nada é oculto.
Construiu-se uma rede internacional de informações. O banqueiro corrupto e corruptor pode evadir-se por algum tempo. Basta um descuido. É apanhado nas malhas dos serviços de inteligência.
Falará. Até para obter benefícios previstos nas leis penais. Muitos patriarcas da República tremem. São os novos tempos. Começam a perder substância as práticas corruptas.
Olhe-se o mensalão. Em sua versão federal, quarenta já foram denunciados. Agora, é a vez da província. Vai acabar também em processo crime. Basta esperar para ver. Vão sobrar muitas penas.
Os órgãos de fiscalização apresentam-se cada vez mais operantes. As cortes de contas e as polícias agem com acuidade. A cidadania acompanha. E mais. Aponta-se à execração pública os corruptos.
Um outro registro triste. Dois países do Mercosul se encontram em posição incômoda: Brasil com sua nota 3,5 e a Argentina atirada ao centésimo quinto posto, com seu grau 2,9. Com estes níveis de imoralidade, fica difícil operar um mercado econômico dinâmico.
Assim caminha o sul da América. Falta vergonha. Sobram contas obscuras. Tudo parece sem limites. O público e o privado confundem-se promiscuamente.
Por toda a parte existem desvios de verbas públicas e tráfego de influências. Nada, porém, se aproxima às diatribes dos países deste Hemisfério.
Não bastam as instituições existentes. São insuficientes. Há quem aponte para a necessidade de nova divisão de poderes do Estado. Postulam a criação de um poder supervisor da integridade.
Pode ser boa idéia. De boas intenções o inferno está cheio. E de corruptos também.
Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
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