segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Língua do fi...


Mirandópolis-SP. - Uma lenda mirandopolense diz que num tempo que não vai muito longe um animal teria comido um diploma universitário na cidade. Durante muitos anos quando alguém se apresentava como sendo de Mirandópolis era comum ouvir: “...conheço, é aquela cidade onde vaca come diploma, não é?”.
Piadinhas à parte, o período que vai do meio da década de 1980 até meados da década de 1990 foi muito interessante para Mirandópolis e para quem nela vivia ou a quem a ela recorria com a intenção de visitar parentes ou passar férias. Nesse período aquele miolo onde está localizado o CAM foi muito fértil. Havia bares variados, todos disputando clientes e cada um oferecendo o que havia de melhor na região, fosse petiscos, bebidas ou MPB. Quase foi possível, exageros à parte, traçar um paralelo entre o que acontecia ali e os áureos tempos da mitológica rua 13 de maio, em São Paulo. Quanta diferença. Atualmente o vinho em taça é servido em copo no estabelecimento comercial mais badalado do pedaço.
Como os tempos são outros, os buracos puderam consumir as ruas, a música virou samba de uma nota só, ou seja, é a mesma em todo canto e santo Deus, como é ruim... A fumaça das queimadas de cana sempre sopram no sentido da civilização fazendo as cinzas encontrarem uma fresta no telhado para invadir as casas. Fumaça que na iluminação pública dos postes quase vira neblina. O forte cheiro de queimado, entretanto, denuncia: é poluição. Socorro!!
Na Mirandópolis atual quase todo mundo em idade de trabalho está ligado a presídios. Seria influência da monocultura da cana que reflete na cultura geral, impedindo a diversidade? A falta de opções contribui para o samba de uma nota só soar ainda mais alto e forte, na sauna ou nos lares. E a paranóia? Há pouco, alguém gravando depoimento ao “museu do cidadão” local causou desconfiança a um certo escritório de advocacia que chamou a polícia. Complexo, não?
Mas os temas aqui abordados ou pincelados são velhos conhecidos e já foram debatidos à exaustão, principalmente nas mesas de bar. O que me chamou a atenção dessa vez foi uma nova palavra que os mirandopolenses estão usando, fi. Inventivo, o mirandopolense sempre inovou. Um clássico, talvez o maior exemplo, é o famoso voti, expressão que ninguém nunca viu escrita, mas que todos na cidade sabem bem o que significa. Basta ser de fora, porém, para estranhar. Mas, e fi, simplesmente fi, o que é? Seria fi, substituto de mano, cara, bicho? As crianças usam fi, os jovens em geral também. O que será? Fi, como em Chico Buarque, anda nas cabeças, anda nas bocas. Fi pra todo lado, fi pra todo canto. Fido Dido? O internetês fez você virar vc. E fi, veio de onde? O que combina melhor com fi, interrogação? Exclamação, ponto final? Se por ventura algum fi de Deus estiver me ouvindo, que por favor, me responda.

José Augusto Lisboa
Professor e jornalista
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