segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Geração Zapping

Mirandópolis-SP. - Quem diria, já entrei na fase de observar o que as gerações mais novas têm feito e, como têm feito. Um dos traços que mais me encantam nesta nova turma é, sem dúvida, a velocidade.
Velocidade com que nascem. A maioria dos partos neste país é com data marcada. Prático, indolor, programável.
Velocidade com que arrumam mães postiças. Na vida quase normal, quem pariu cumpre licença maternidade e, depois dos quatro meses de direito, retorna ao trabalho. A criança vai ter de passar algumas horas do dia com outra pessoa.
Velocidade com que são envolvidas pelo brinquedo mais versátil da Terra, o computador. Qualquer banquinha de camelô vende versões infantis de máquinas com cores à revelia, fora o dos pais. Tem também a velocidade com que vão para a escolinha, cursinhos disso e daquilo, reforço, esporte. Afinal, criar um super-homem é tarefa árdua, cara e longa.
Admiro, mas também me espanto. Não é de hoje que vejo que a tal velocidade parece interferir no modo em que os que vêm aí se relacionam. Parece que o mundo e seus enigmas podem ser revolvidos com um mero clique, como se um mouse imaginário fosse acionado e, em segundos, viesse a resposta na tela da nossa face. Esperam que nós tenhamos também o tempo de chips.
A psicologia trouxe uma resposta. A turma que ultrapassou em muito a marca dos 100 por hora tem nome próprio, geração zapping, fenômeno do comportamento devidamente reconhecido e estudado. A analogia se aproveita do involuntário e quase sagrado ato de 'zapear' o controle remoto. É o aperto compulsivo atrás do canal de tv mais interessante, do clique turbulento nas páginas da internet e, não raramente, segundo os psicólogos, da troca rápida das coisas. Um descarte que acerta em cheio as relações humanas.
Aí surge um problema, as opções, os caminhos. Pois o que se tem constatado é a dificuldade advinda da superficialidade, o que tem gerado muita insegurança entre os zapping. Ou será que a tal velocidade permite o olhar atento e crítico sobre as pessoas, a carreira, a política, a economia, a pobreza?
Preocupados com a escolha profissional, grupos de estudo espalhados em universidades do Brasil introduzem dinâmicas de grupo em jovens para se ter mais clareza sobre um eterno dilema humano, autoconhecimento. O que eles encontram? A distância entre o zapear e o conhecer. O zapear é ligado à quantidade. Já o conhecer, à qualidade. Com isso, o paciente tempo até a maturidade corre o risco de ser sacrificado, decidir entre o curso mais parecido com nosso potencial pode significar também o debruçar sobre certos temas. Aí o descarte das possibilidades recusadas pode ser dolorido demais.
Cavalos não vão ocupar o lugar de carros, tampouco devem-se ressuscitar máquinas de escrever para esmagar a praticidade dos teclados. A velocidade é um dos princípios do universo, só muda de tempos em tempos. Charles Darwin já dizia que a seleção natural favorece os mais aptos ao meio. Sempre foi e assim será.
Para saber mais:Orientação Vocacional:alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos.Autores: Vasconcelos, Z.B e Oliveira, I.D.Editora: Vetor, 2004.
* Fábio Menegatti é jornalista, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e licenciado em História pela Univag.E-mail: fabio@tvca.com.br

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