segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Agindo Contra a Corrupção

Texto do Zuenir Ventura publicado (12/09) no jornal O Globo, abordando o trabalho da Amarribo, do IFC, do projeto Adote um Município e da Caravana "Todos Contra a Corrupção".

Na época, 1999, o caso chegou à imprensa como exemplo de controle eficaz do poder público pela sociedade. Em Ribeirão Bonito, no interior paulista, um grupo de cidadãos dispostos a agir, não apenas a se indignar, criou uma ONG, a Amarribo, e passou a investigar indícios de improbidade administrativa na prefeitura local. A iniciativa, que logo recebeu o apoio do Ministério público e de toda a cidade, resultou na cassação do prefeito e de um vereador. Com base na experiência, uma cartilha de orientação foi distribuída a mais de quatro mil municípios.
Nunca mais ouvi falar do episódio, até que há dias fiquei sabendo que o modelo dera frutos e que existe uma frente anticorrupção atuando no país. Só na rede da Amarribo estão conectados 140
parceiros, todos coordenados pelo Instituto de Fiscalização e Controle (www.ifc.org.br) , uma entidade apolítica e sem fins lucrativos que te a assistência técnica das associações de auditores
do SUS, da Caixa Econômica e do Tribunal de Contas da União, entre outras.
O objetivo é criar ONG's locais ou reforçar as existentes para disseminar as práticas de controle dos gastos públicos e de combate à má gestão e ao desvio de verbas. Usando o tempo livre, os
auditores oferecem de graça o seu know-how pessoalmente ou pela Internet, mostrando que fiscalizar é uma tarefa ao alcance de todos.
Os cidadãos passam a dispor de uma ferramenta para acompanhar e avaliar o trabalho dos governantes. Professores e pais de alunos, por exemplo, aprendem a vigiar a aplicação de recursos destinados à escola, como merenda escolar.
Dizem que as leis brasileiras contra a corrupção são boas, só não são cumpridas. Faltam ações da sociedade nesse sentido. Por isso, o grupo tem desenvolvido projetos como o Adote um Município ou a Caravana Todos Contra a Corrupção. A 32ª dessas expedições a municípios de vários estados foi a Mirandópolis (SP), no final de agosto. Uma das auditoras presentes, Michelle Glória, 33 anos, aproveitou as férias para representar a Auditar (União dos Auditores Federais de Controle Externo) no encontro. Entusiasta da iniciativa, ela afirma que a maior recompensa que os servidores recebem é a certeza de que estão contribuindo para a "formação de uma consciência crítica de cidadania por meio do controle social".
A gente perde tanto tempo falando mal de Brasília e de seus políticos que se esquece de olhar para um outro Brasil, esse muito mais real, chamado com um certo desprezo de "interior". Mudanças
importantes de baixo para cima podem estar surgindo lá, aos poucos, às vezes silenciosamente. Vale a pena prestar atenção.

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